Paços de Ferreira: para o líder Benfica é a última barreira antes do clássico, para Rui Vitória e Pizzi é igualmente um regresso à sua casa de partida no escalão principal do futebol português.
Em 2010/11, Rui Vitória teve na Capital do Móvel um trampolim de Fátima para Guimarães. Sétimo lugar no campeonato e finalista da Taça da Liga. Em suma, uma boa época para o Paços e uma curiosidade para recordar: nesse ano, os pacenses receberam o Benfica na Mata Real na jornada imediatamente anterior à de um clássico na Luz, em que o FC Porto, então de André Villas-Boas, acabaria por celebrar no relvado do rival a conquista do título.
Rui Vitória não guardará boas memórias dessa receção pacense ao Benfica de Jorge Jesus, sentenciada com uma goleada por 5-1, mas daquela equipa do Paços há quem tenha boas recordações do técnico.
A começar por Rui Caetano, que com 20 anos acabados de fazer e saído dos juniores do FC Porto foi lançado às feras logo na 1.ª jornada do campeonato.
«Primeira época como profissional, primeiro jogo oficial no Paços e ele põe-me a titular logo no primeiro jogo da Liga. Contra o Sporting. Assim mesmo… Sem a olhar a idades ou à experiência. Foi o treinador que me lançou nos seniores, deu-me confiança ao longo da pré-época e apostou em mim. O Rui Vitória era uma pessoa próxima dos jogadores, posso até dizer amiga, mas também sabia ser líder.»
«Digo-lhe já: não estou a “puxar o saco”, porque não vou, com certeza, voltar a ser treinado por ele», atira Caetano.
O jovem avançado do Desp. Aves, filho de Agostinho Caetano (ex-FC Porto, Tirsense, Penafiel e Sp. Espinho), recorda Vitória como um treinador que «sabia conquistar o grupo».
Prova disso mesmo foi a forma como a equipa técnica preparou a final da Taça da Liga: «Na véspera da final, estávamos em estágio e cada jogador recebeu no quarto de hotel uma carta. Uma carta personalizada, cada um recebeu a sua, escrita pelo punho do treinador. No dia do jogo, passaram um vídeo de motivação com as nossas famílias. Uma coisa de motivação, mesmo a apelar ao sentimento.»
Manuel José, antigo capitão do Paços, pormenoriza a versão de Caetano: «A carta era sobre o espírito de grupo, a elogiar o que tínhamos conseguido ao longo da época, mas também tinha uma parte pessoal. E depois houve o filme, pouco antes do jogo. Montaram um retroprojetor no balneário e passaram os testemunhos das mulheres ou namoradas, dos filhos… Uma coisa emotiva, mesmo antes de entrarmos em campo para jogar [o Benfica venceu o Paços nessa final da Taça da Liga, em Coimbra, por 2-1].»
O médio-ala ex-Paços que agora aos 36 anos representa o Gondomar salienta que, além da tranquilidade, Rui Vitória era sobretudo um comandante muito próximo do seu “exército”: «Conversava com cada um, na véspera dos jogos treinava connosco, entrava no “meínho”…»
Rui Vitória era assim. E Pizzi? Bom, Pizzi era suplente de Caetano. «Ei… Nem meta isso que até parece mal!», graceja o avançado de 25 anos, antes de esclarecer: «Fui titular até à 6.ª jornada, até que me lesionei logo no início do jogo (minuto 8) em Setúbal e fui substituído por ele. Tive de ser operado ao ombro [voltou a jogar apenas na jornada 21] e quem passou a jogar na minha posição a extremo-esquerdo foi o Pizzi. Mas, atenção, ele já era um jogador fora do normal. Fez um hat-trick no Dragão frente ao FC Porto, a partir daí despertou o interesse do Atlético de Madrid… Já gostava de o ver a extremo, mas acho que ele joga ainda melhor ao meio.»
Caetano prefere o ex-companheiro de equipa a jogar no centro do terreno – «tem aquela tabela curta, que faz a diferença, rapidez na transição, técnica…» –, tal como Manuel José, que passou época e meia com Pizzi em Paços e cedo lhe detetou «qualidade de passe e facilidade de remate com os dois pés»: «Precisamente por estas características digo que gosto mais de o ver jogar no meio, como agora joga no Benfica. A qualidade de passe e de remate que ele tem faz a diferença naquela zona e até faz mais golos dali.»
Sábado, pelas 20h30, o Benfica tem na Mata Real, tal como aconteceu há sete anos, um desafio importante em vésperas de receber o FC Porto. Rui Vitória e Pizzi estão agora do outro lado. Será um regresso feliz?
Autore: Maisfutebol